Feche a porta

Dessa vez, quando caminhar em direção à saída e olhar para trás, dentro dos meus olhos, com seu olhar de despedida: não se esqueça, feche a porta. Feche a porta para que o vendaval que toma conta do quarto, quando você se vai, não a bata bruscamente. Feche a porta para que nada mais se quebre. Feche a porta para que não se possa mais voltar ao mesmo quarto desarrumado. Feche a porta porque arrumar esse quarto é coisa minha.

Coisa minha, eu comigo, com meus jeitinhos e minhas músicas. Em poucos minutos, depois que você se vai, eu me levanto, analiso o caos; me fantasio de roupas engraçadas que estão ali no chão, coloco uma música que me anima e começo a arrumar. E, então, toda vez que você volta por uma porta entreaberta, eu perco toda a arrumação. O vendaval volta e remexe tudo.

Então, da próxima vez, feche a porta. Vou jogar pelas janelas algumas roupas que não me servem e que só você conseguia me enxergar nelas; vou quebrar alguns enfeites que sem nós dois, já não me cabem. Vou queimar algumas cartas e lembranças. E, outras — àquelas pelas quais tenho apego, que trazem alguma memória bonitinha — eu deixo por ali, dentro de uma caixa, no fundo do guarda-roupa, quando quiser revisitar.

Feche a porta porque agora eu gostaria é de entender que parte minha se prendeu a você. Que parte minha se perdeu em você. Feche a porta porque sinto falta de mim, muito mais do que falta sua. Feche a porta para que eu possa escolher a música e dançar em paz, sem que a possibilidade de você voltar me assombre.

Feche a porta, quem sabe assim você também poderá encontrar novos caminhos; sem fugir quando o medo da tempestade lá de fora te atravessar. Na minha cama não existe mais segurança, não adianta voltar aqui pra dentro. Do lado de dentro, com a gente junto, é vendaval e não calmaria. Lembre-se disso e feche muito bem a porta.

Mas guarde a chave. Assim, quem sabe…