Diários da quarentena

Karoline Siqueira
2 min readMar 28, 2020

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Hoje à tarde escrevi sobre cansaço. Era mais ou menos 15h00. E lembro de sentir com todas as minhas células que estava vulnerável, exausta, cansada de lidar com todos os convites que a vida tem feito nos últimos dias. As sombras.

Passam as horas. E agora eu consigo me conectar com os presentes da situação. E eles me atravessam. Deitei na cama e lembrei de onde quero estar daqui uns 2 meses, aquela viagem que programei. E me imaginei lá, com todos os meus amigos, dançando, abraçando. Eu pensei como será depois que tudo acabar e a vida abrir espaço pra um pouquinho de festa.

Meu texto sobre cansaço falava: “e se a gente puder falar sobre as dores de forma sincera?”. E agora eu me pergunto: e se na verdade a gente não pensar que tudo vai dar tão errado? E se a gente parar de se conectar com a possibilidade de colapso? E se a gente aproveitar pra aprender? E se depois que tudo passar a gente souber abraçar melhor, viver melhor, sentir melhor e ser mais feliz?

Comecei a dançar em casa mesmo, porque ser feliz é agora. Pode ser agora e pode ser aonde a gente estiver, antes mesmo do futuro chegar. A gente projeta no futuro a ideia de que tudo estará bem. E sempre existem desafios que frustam do final pleno e feliz. Mas provavelmente a vida só espera que a gente se conecte com a possibilidade diária de sorrir e aproveitar.

Aproveitei a memória e pensei em tudo que farei. Tipo ligar menos pra possibilidade das coisas darem errado, porque essas coisas não estão no meu controle. No final nem uma experiência como a que estamos passando é dar errado. E isso pode ser romantismo, mas o lado romântico me encanta e faz sentido.

Penso que a vida sempre me permitiu soltar, em todas as situações, e curtir sem colocar poréns, sem questionar, sem ter medo daquele momento acabar. Mas eu sempre puxei o medo sem saber o que era de fato não ter possibilidade. Agora que a gente pode enxergar a situação de “não possibilidade”, qualquer possibilidade pequena é mais vista enquanto o presente que é.

Lembro que foi no meio das “desgraças” da vida que aprendi melhor a soltar o controle. E que pude, depois que tudo passou, aproveitar cada pequeno passo como uma grande conquista. Porque é isso. Depois do penhasco a gente voa..e o vento leva a gente muito mais longe se soubermos soltar.

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Karoline Siqueira

Psicóloga, mãe, escritora. Espiritualidade, autoconhecimento, autorregulação emocional e a maternidade real são meus pilares.