Aceite que a vida seja

Karoline Siqueira
3 min readApr 22, 2024

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Senti o gosto da vida querendo mudar faz alguns meses, mas o medo de mergulhar no desconhecido me fez fugir desse gosto; jogar um outro sabor por cima, um sabor já conhecido. O mais engraçado é que a mistura do sabor novo com o antigo, forma algo que não é gostoso de se provar.

Tentar forçar o curso da vida a permanecer onde já não habitamos realmente não vale a pena. Machuca insistir em permanecer em um lugar que não nos cabe. Acho curioso o fato da vida decidir bem antes da gente, com o tal poder de movimentar, o que fica e o que acaba. Os ciclos nos sinalizam se eles ainda devem permanecer.

Eu sempre insisto. Sempre insisto em manter na minha vida um ciclo antigo, já encerrado pela vida, na tentativa vã de controlar o que o futuro me reserva. Medo do futuro, do desconhecido, seria? Sim, também. Mas acho que eu tenho ainda mais medo de perder a segurança que o conhecido me dá. Falsa segurança; porque até o que é conhecido muda com o tempo.

“Tudo tá mudando o tempo todo, a vida tá mudando muito” eu comecei a dizer conforme estou chegando perto dos 30 anos. Essa idade-crise que guarda tantos significados ainda não tocados por mim. Parece que a vida muda cada vez com mais velocidade. Parece também que eu estou perdendo alguma coisa, a qual nem sei o que é. Parece que as coisas vão ficando soltas pelo caminho. E eu me afundo na quantidade de mudanças às quais devo me adaptar.

Certo dia, a vida me ensinou que não é sobre se adaptar e nem mesmo sobre compreender as mudanças. É, apenas, sobre deixar as coisas se transformarem e aprender a simplesmente fluir dentro das mudanças. Porque, se eu parar pra pensar, realmente perco o tempo das coisas. Quase como quando você está nadando no mar e perde de vista a onda vindo, quando para pra observar alguma outra coisa.

Eu acho que o movimento da vida é igual o movimento do mar. É tudo muito rápido. Não se desvia o olhar da onda, permita com que ela venha e que seu corpo seja naturalmente levado para o melhor mergulho: aquele que não te faz levar um caldo. Às vezes, aceita que o caldo será inevitável e não resista, para tornar o processo mais fácil. De vez em quando, será preciso descansar fora da água. Em outros momentos, vamos pegar a onda e nadar junto com ela, aproveitando seu impulso, para ir mais longe.

Eu quero aprender a nadar. Engolir água salgada sem que isso me mate. Eu quero aprender a cuidar das feridas e me salvar dos afogamentos da vida. Eu quero, muitas vezes sinto que não consigo, mas a vida segue aí me mostrando que — em todos os momentos — eu tenho sido minha própria salva vidas. E que, nadando em algo tão vivo e salgado, realmente não é possível que seja previsível ou perfeito. É sempre apenas do jeito que é.

A vida.
O mar.
Nadar.
Fluir.
É sempre apenas do jeito que é.
Aceite que seja, antes que você morra afogado pela própria resistência.

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Karoline Siqueira

Psicóloga, mãe, escritora. Espiritualidade, autoconhecimento, autorregulação emocional e a maternidade real são meus pilares.